Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 5ª ED] ENCONTRO 2 | DESVER: O DESENHO COMO EXPERIÊNCIA VISUAL”Quando penso que vejo, quem olha
por mim enquanto estou pensando?
Fernando Pessoa
[PROCESSOS POÉTICOS 5ª ED] ENCONTRO 1 | “Desinvenção da visão” (Parte II)
Todo artista intui e de algum modo sente na pele que sua atividade criativa não é devidamente aceita; e quando aceita, não é bem compreendida. Nesse caso é ainda pior: a censura é intolerável, mas não há interdição maior do que articular uma língua que ninguém entende, numa linguagem que nada significa aos outros. Realmente, o dilema maior do artista parece ser aceitar a sua própria verdade.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 5ª ED] ENCONTRO 1 | “Desinvenção da visão” (Parte II)”[LIVE] “A formação do artista” | COM MARCOS BECCARI
A formação do artista
Nesta Live com Marcos Beccari, falamos acerca de como se deu a constituição do “artista” na Renascença europeia; as condições objetivas e subjetivas de seu aparecimento histórico. Esse conteúdo servirá também como base de nosso primeiro encontro do curso PROCESSOS POÉTICOS, que inicia em 15 de abril.
Leia mais: [LIVE] “A formação do artista” | COM MARCOS BECCARI Continuar lendo “[LIVE] “A formação do artista” | COM MARCOS BECCARI”[PROCESSOS POÉTICOS 5ª ED] ENCONTRO 1 | “Desinvenção da visão” (Parte I)
Para cumprir a difícil disposição de se assumir artista, compete ao sujeito compreender a singularidade que distingue o gesto artístico – singularidade esta, que em geral se chama poética. E o meio mais eficiente de expressão desta singularidade é o conhecimento das referências, dos traços pendulares, dos campos semânticos e lexicais do trabalho – ou seja, a constituição simbólica, ou linguística de tal fazer singular. É isso que denomino “articulação plástico conceitual”, cuja operação pode esclarecer o artista quanto aos recursos expressivos de sua atuação.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 5ª ED] ENCONTRO 1 | “Desinvenção da visão” (Parte I)”O constante e o diverso na produção de MARIA TOMASELLI
A imensa, diversificada e, no melhor sentido da palavra, caótica produção de MARIA TOMASELLI reage ao enquadre curatorial contemporâneo que em geral privilegia uma narrativa, um discurso poético-conceitual específico, uma categoria de linguagem: é no caos que essa artista gaúcha se encontra; na variedade, tanto de forma quanto de categorias, seu trabalho produz unidade.
Continuar lendo “O constante e o diverso na produção de MARIA TOMASELLI”[labPROCESSOS] lab#1: “O tempo das imagens”
A imagem é uma extraordinária “montagem”
– não histórica – de tempo”
(Didi-Hubermann, 2000, p. 16)
O objetivo do labPROCESSOS é a criação de um espaço de debate permanente – para além das edições do curso Processos Poéticos, que ofereça continuidade de estudo aos participantes. O que segue é um resumo do conteúdo do primeiro encontro – lab#1, que ocorreu em 01/10/22. A segunda edição será em 03 de dezembro. (Os vídeos gravados com os encontros na íntegra podem ser adquiridos, vide informações ao final)
Continuar lendo “[labPROCESSOS] lab#1: “O tempo das imagens””[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] “MÓDULO 3”: PRIMEIRA AULA | NARRAÇÃO FIGURADA E IMAGEM NARRATIVA
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] “MÓDULO 3”: PRIMEIRA AULA | NARRAÇÃO FIGURADA E IMAGEM NARRATIVA”“Por mais evidente que pareça ser seu “grau de similitude”, uma pintura realista é necessariamente convencional. O manejo das cores, por exemplo, passa pela consciência de que não se trata de cor vista (que é luz, não pigmento), da mesma forma que uma palavra não se assemelha, visual ou foneticamente, ao que ela designa. Toda semelhança é arbitrária. E a pintura começa quando deixamos de ver semelhanças e passamos a ver acidentes, algo como uma gota que, ao escorrer no papel, faz alusão a uma silhueta, um rosto, uma flor. É assim que uma pintura se torna realista, mas vê-se com clareza que ela não o é desde o início, que a figuração é apenas um resultado possível. Tal resultado, por sua vez, depende uma eventual narrativa, exatamente como os borrões de tinta devem ser lidos nos testes de Rorschach: conta-se não o que se vê, mas o que parece se passar no plano pictórico e o que se supõe ocorrer nos olhos de quem o observa.
MARCOS BECCARI. In. Antirrealismo: uma breve história das aparências. Curitiba: Kindle Direct Publishing, 2019, p. 6-7.)
[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] “MÓDULO 2”: SEGUNDA E TERCEIRA AULAS | ONDE SE RELACIONAM ARTE E PSICANÁLISE?
Vimos como a psicanálise confere uma constituição radicalmente diferente à “realidade” daquela enunciada pela filosofia e pela ciência até então. Se for compreendida por meio de três registros estruturantes – Real, simbólico e imaginário, ela se torna operativa e sua interpretação mais eficiente. Trazemos alguém mais qualificado para reforçar essa caracterização:
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] “MÓDULO 2”: SEGUNDA E TERCEIRA AULAS | ONDE SE RELACIONAM ARTE E PSICANÁLISE?”[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] “MÓDULO 2”: PRIMEIRA AULA | PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO
No primeiro encontro do Módulo 2, cujo conteúdo ora compartilhamos, preferimos abordar diretamente alguns dos conceitos centrais da psicanálise – será mais útil ter noção do que seja essa área do saber, para então mensurar sua contribuição à arte e a natureza de suas implicações mútuas. Durante as quatro horas do encontro discorremos acerca dos registros Real, simbólico e imaginário, e sobre algumas relações entre as teorias de Lacan e Freud. No segundo encontro falaremos do Estádio do espelho – articulação central na constituição do sujeito, que Lacan faz coincidir com o reconhecimento da dimensão da imagem.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] “MÓDULO 2”: PRIMEIRA AULA | PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO”[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] TERCEIRA E QUARTA AULAS | DESVER: A EXPERIÊNCIA VISUAL
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] TERCEIRA E QUARTA AULAS | DESVER: A EXPERIÊNCIA VISUAL“A minha musa foi a destruição
MALLARMÉ
[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] SEGUNDA AULA | AS DIMENSÕES DA IMAGEM
Iniciamos falando do “autorizar-se” como artista; agora alguns apontamentos acerca da recepção e crítica da produção se faz necessário – a começar por um pressuposto básico: elogios estragam o artista.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] SEGUNDA AULA | AS DIMENSÕES DA IMAGEM”[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] PRIMEIRA AULA (parte II) | DESINVENÇÃO DA VISÃO
Ao final do último artigo, falamos que somente o desejo do artista é capaz de o manter em atividade. Reforça essa noção o fato de que a arte é um trabalho sem finalidade, o qual não possui utilidade per si em um sistema de circulação de mercadorias. Num contexto de “realismo capitalista[1]”, todas as atividades possuem um único vetor: a instrumentalização em favor de lucro. É precisamente aí que a arte desempenha função fundamental, uma função estratégica mesmo do processo civilizacional. Suas operações são invisíveis, entretanto, porque são pressupostas – quer dizer, a arte sempre entrega seus efeitos e esconde seus processos. Ao redor de nós, ela organiza e “cultiva” por todos os lados as formas do mundo: em cada detalhe o trabalho de um artista, um designer, um arquiteto, etc. está oculto, alienado em cada objeto (como em geral o trabalho está oculto em seus produtos).
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] PRIMEIRA AULA (parte II) | DESINVENÇÃO DA VISÃO”[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] PRIMEIRA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO
O exercício da arte exige um questionamento que inicia na interlocução. Neste artigo (um trecho do primeiro encontro do curso Processos Poéticos que inicia em 13 de Agosto) falaremos sobre os desafios na busca de uma voz autoral. Para onde o olhar do artista se (re)volta? E para quê?
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 4ª ED] PRIMEIRA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO”[PALESTRA] POÉTICAS DA FIGURAÇÃO CONTEMPORÂNEA | CURITIBA
Conteúdo da palestra apresentada por ocasião da 2ª Mostra do Coletivo FIGURE, na Gibiteca de Curitiba em junho de 2022
Continuar lendo “[PALESTRA] POÉTICAS DA FIGURAÇÃO CONTEMPORÂNEA | CURITIBA”[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] QUINTA AULA | CONSTRUINDO UM PROJETO DE TRABALHO
Ajuda-nos senhor a colher a importância das perguntas que nos desestabilizam, em vez de nos tornarmos, com idade adulta, profissionais da fuga.
Cardeal TOLENTINO MENDONÇA
Até agora falamos do problema das identificações e como indexam o imaginário, e mesmo alienam o espectador. Em vias de iniciarmos o trabalho prático do Curso, é hora de encarar agora também a potência das identificações e sua capacidade de produzir afetos.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] QUINTA AULA | CONSTRUINDO UM PROJETO DE TRABALHO”[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] QUARTA AULA | AS DIMENSÕES DA IMAGEM (PARTE II)
“Me deram um nome e me alienaram de mim”
CLARICE LISPECTOR
Desde o primeiro encontro, temos falado sobre a experiência, e concluímos que “ver” é equivalente a sofrer um tipo de experiência visual. A psicanálise oferece um instrumental teórico para compreensão da estrutura ontológica da experiência, com a vantagem adicional de que sua metapsicologia é referenciada na imagem e em suas diferentes enunciações.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] QUARTA AULA | AS DIMENSÕES DA IMAGEM (PARTE II)”[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] TERCEIRA AULA | AS DIMENSÕES DA IMAGEM (PARTE I)
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] TERCEIRA AULA | AS DIMENSÕES DA IMAGEM (PARTE I)”Paul Valéry ministra as Lições de poética no Collège de France a partir de elaborações que partiam da crítica ao academicismo vigente na arte, e da exigência da participação ativa do artista (em toda sua subjetividade) na concepção da obra. No último encontro, vimos como o autor vai assim dando contorno ao que mais tarde conheceríamos como “poéticas visuais” – considerando o acréscimo do último século, onde o conceito foi ganhando densidade.
[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] SEGUNDA AULA | “DESVER”: UMA EXPERIÊNCIA VISUAL
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] SEGUNDA AULA | “DESVER”: UMA EXPERIÊNCIA VISUAL”E, se tento compreender e saborear esse delicado gosto que o segredo do mundo confia, é a mim mesmo que encontro no fundo do universo. (…) E, então, quando sou mais verdadeiro do que quando sou o mundo? Sou presenteado antes de ter desejado. A eternidade está ali, e eu esperava por ela. Agora, não desejo mais ser feliz, e sim apenas estar consciente.
ALBERT CAMUS, O direito e o avesso
[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] PRIMEIRA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO (PARTE 2)
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] PRIMEIRA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO (PARTE 2)”Expliquei para alguém o sentido que via na militância política, e ouvi: “esse mundo mudou, hoje não se trata mais de fazer pelos outros, representar a voz dos outros… Hoje é ensinar a fazer”. Aceitei a crítica e, com o tempo incluí um adendo: “ensinar a fazer e compartilhar processos”. Aquela observação me ensinou uma coisa a mais: alterou minha maneira de ver. Disso resultou uma mudança em minha posição ética. Percebi que, diferente da localização geográfica, onde a mudança de posição promove a modificação do horizonte, subjetivamente o que acontece é o contrário.
[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] PRIMEIRA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO (PARTE 1)
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 3ª ED] PRIMEIRA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO (PARTE 1)”Toda expressão artística é, antes de tudo, expressão de um erro. Tenho uma ideia ou conceito que me parecem perfeitos; basta lançar mão de um lápis: pronto, o traço já não está à altura da ideia, o desenho não expressa devidamente o conceito. Por mais que tente aprimorá-lo, a dimensão platônica implícita em toda ação humana impõe uma exigência (alter egóica) que frustra a experimentação. Por isso Samuel Beckett se refere ao processo artístico assim: “errar, errar de novo, errar melhor”.
+50 Mulheres na arte: uma atualização
Continuar lendo “+50 Mulheres na arte: uma atualização”Este 8 de março de 2022 merece uma atualização na listagem de artistas mulheres que elaboramos tempo atrás. É claro que este é apenas breve resumo de um universo incontável de artistas – mas é uma proposta de síntese do que considero a melhor produção pictórica realizada por mulheres na contemporaneidade.
TEXTO DE CURADORIA | “ÁGUA DE VER”, EXPOSIÇÃO DE MARCOS BECCARI
Continuar lendo “TEXTO DE CURADORIA | “ÁGUA DE VER”, EXPOSIÇÃO DE MARCOS BECCARI”Última semana para visitação da exposição Olhar Submerso, de MARCOS BECCARI, em exibição da Fundação Cultura de Curitiba. No post, segue nosso texto de curadoria…
[PROCESSOS POÉTICOS 2ª EDIÇÃO] SEXTA AULA | ÉTICA DAS IMAGENS
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 2ª EDIÇÃO] SEXTA AULA | ÉTICA DAS IMAGENS”Hoje falaremos de poesia. Gostaria que considerassem esta frase do escritor português José Saramago: “Se podes olhar, vê; se podes ver, repara”. A expressão denota um sentido ético intrínseco ao fazer (e ser) poético. O verbo “reparar”, como verbo transitivo, tem origem em reparare = “começar outra vez, preparar novamente”, e todos os seus sinônimos remetem a tal formação latina: re (“outra vez) + parare = “preparar, aprestar”. Outros sinônimos são: renovar; melhorar, retocar, consertar, restaurar, indenizar, restabelecer, compensar[1].
[PROCESSOS POÉTICOS 2ª EDIÇÃO] QUINTA AULA | A PSICANÁLISE E OS SENTIDOS DA IMAGEM
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 2ª EDIÇÃO] QUINTA AULA | A PSICANÁLISE E OS SENTIDOS DA IMAGEM”Falamos da experiência visual que arquitetou a própria inscrição do artista como testemunha da História enunciando, assim o lugar do artista. A esta altura, já distinguimos com maior clareza o que são vivências cotidianas (pelas quais passamos a todo momento no viver), e tal experiência visual – que é a “vivência elaborada”. Anteriormente, também defendemos que a experiência visual, uma vez emulada em procedimentos técnicos (perspectiva e demais operações da linguagem visual), daria conta de “superar”, por assim dizer, paradoxos constitutivos da criação poética, na medida em que situa os processos subjetivos em função da compreensão (até onde é possível) de coordenadas simbólicas, em função das quais a experiência se organiza. Tal compreensão impede a precipitação de estereótipos, deixando emergir uma “percepção” mais “imediata” da experiência que funda o lugar subjetivo do artista – a isso chamamos olhar.
[PROCESSOS POÉTICOS 2ª EDIÇÃO] SEGUNDA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 2ª EDIÇÃO] SEGUNDA AULA | DESINVENÇÃO DA VISÃO”O tema deste encontro do Processos Poéticos já está em parte no texto da edição anterior do curso, abordando algumas das relações entre olhar e a visão que sustentam a intervenção do artista (seu processo criativo). Este assunto servirá como introdução ao método de “desver”, que no Programa denominamos sob o título A desinvenção da visão.
[PROCESSOS POÉTICOS 2ª edição] QUARTA AULA | Poéticas da Figuração Contemporânea
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 2ª edição] QUARTA AULA | Poéticas da Figuração Contemporânea”O terceiro encontro do Processos Poéticos foi dedicado à apresentação das propostas de trabalho pelos integrantes dessa edição do curso, que a partir de agora receberão orientação individual durante a execução, até o último encontro (quando os trabalhos serão apresentados coletivamente à turma). Neste quarto encontro estudaremos o cenário contemporâneo da figuração artística.
[PROCESSOS POÉTICOS 2ª edição] PRIMEIRA AULA | Desinvenção da visão
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS 2ª edição] PRIMEIRA AULA | Desinvenção da visão”Neste primeiro encontro da 2ª edição do [CURSO] Processos Poéticos, voltaremos a tratar da conceituação de “poética”, considerando a natureza do Desenho a fim de refletir sobre o lugar e a natureza da criação artística.
[PROCESSOS POÉTICOS] SÉTIMA AULA | MODERNO/PÓS/MODERNO: NOS LIMITES DA ARTE
Este é o último conteúdo teórico do Curso PROCESSOS POÉTICOS, que encerra dia 28/06 com apresentação dos trabalhos práticos desenvolvidos pelos participantes. Reservas para segunda edição (prevista para Agosto de 2021) através do contato no site!

A década de 1960 relativizou a dimensão humana em todos os sentidos – talvez tanto quanto o heliocentrismo (teoria que Copérnico publicou em 1543, mais tarde ratificada por Galileu), que retirou a Terra de sua imutabilidade e a fez girar em torno de um sol fixo, junto a bilhões de outros astros. Nos anos 60, viu-se pela primeira vez, as fotos da Terra tiradas pelos astronautas da Apolo 11 (capa do artigo); e também as fotos da vida intrauterina, capturadas por Lennart Nilsson.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS] SÉTIMA AULA | MODERNO/PÓS/MODERNO: NOS LIMITES DA ARTE”[PROCESSOS POÉTICOS] SEXTA AULA | Síntese e representações
O problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história se tornar a única história.
CHIMAMANDA ADICHIE

O que se costuma chamar de “representação” em arte não é, senão síntese: produto de escolhas deliberadas. A condição representacional é assim, paradoxalmente, a de não emular o real. Ao contrário do sentido redutor de mímesis (onde a “semelhança” com um referente é projetada pelo observador), a Figuração Realista – e isso se poderia dizer de toda forma artística, se constitui de uma “alteração” da realidade com o fim de torná-la verossímil, assimilável. Deste modo é que a arte emula as condições de experiência do sujeito (não a experiência da coisa em si). A percepção opera, de fato por meio de uma seleção anamórfica (logo, imaginária) de identificações que destituem o “real” de sua verdade, registrando-o simbolicamente a fim de se apropriar dele; nesse registro, porém, algo se perde para sempre. O filósofo Baudrillard resumiu bem isso: “Criar uma imagem consiste em ir retirando do objeto todas as suas dimensões, uma a uma: o peso, o relevo, o perfume, a profundidade, o tempo, a continuidade e, é claro, o sentido.”
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS] SEXTA AULA | Síntese e representações”[PROCESSOS POÉTICOS] QUINTA AULA | O ato poético
Falamos de um Je e de um moi; agora é a vez das noções de Eu ideal e Ideal de Eu. Ambas figuras desenvolvidas por Freud, e fundamentais ao ato poético no tocante ao sujeito que o experiencia e à dimensão conceitual (o quê fazer), são essas posições do sujeito instituídas em função da imagem.

Eu ideal x Ideal do Eu
O Eu ideal corresponde a uma forma do Narcisismo – um lugar ajustado ao desejo e à expectativa dos pais e da sociedade; em outros termos, àquilo tudo que o “outro espera de nós”. No Eu Ideal – instância imaginária onde a divisão que existe entre o que eu “sinto ser” e a “imagem do que sou” desaparece, e onde nos identificamos completamente com as projeções alheias, respondendo ao que o outro espera – somos objeto que satisfaz a expectativa de alguém (função à qual recorremos na esperança de agradar e fazer cessar a angústia). Já o Ideal do eu (instância do Complexo de Édipo) corresponde a uma superação simbólica do narcisismo primário do Eu ideal – quando já a criança percebe que não é amada pelo que é em si mesma, mas por algum outro valor independente de si. O Ideal do eu representa aquilo que se deseja no desejo; remete ao que se deve “querer tornar-se”. Ou seja: a busca de um ideal que autorize meu próprio desejo. Sua enunciação se daria através de perguntas como – o que serei e como devo ser? em que lugar subjetivo devo estar? que faço a fim de poder desejar aquilo com que me identifico? Aqui é onde o desejado passa a ser desejante. O Ideal do eu permite a substituição das projeções sobre nossas figuras parentais – de seres superiores e onipotentes, tornam-se então humanos como os demais, e o campo de desejo é substituído por outras instâncias que os representam: professores, mestres, sujeitos sociais que admiramos, etc. A partir dele montamos os ideais reguladores de nosso horizonte ético. Ele permanecerá, no entanto, sempre no futuro do pretérito, indicando um caminho que não será jamais alcançado.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS] QUINTA AULA | O ato poético”[PROCESSOS POÉTICOS] QUARTA AULA | Poéticas da Figuração Contemporânea
Apresentamos aqui uma hipótese de interpretação da Figuração Contemporânea, buscando afastá-la da vacuidade do conceito genérico de “pintura contemporânea”. Acreditamos estar em curso um movimento que, pela densidade, quantidade e abrangência, pode vir a definir um momento histórico sui generis. Para outros desenvolvimentos, clique aqui.

óleo sobre tela (48′ x 44″)
Levantamos até agora, no curso Processos Poéticos um espectro de conteúdos acerca da experiência – desde o momento em que é estruturada pela perspectiva (método de “representação” instaurador das coordenadas que possibilitaram o sujeito da experiência na arte), até seu uso político-ideológico (com o exemplo maior do programa de política cultural empreendida pela CIA nas décadas de 50/60 em todo o Ocidente). Tudo isso a fim de dialeticamente compreender o sentido da Figuração Contemporânea, uma vez que ela não é representacional. Propomos pensar tal produção como parte de um processo de continuidade com a Arte Moderna, ou seja, como mais um fruto do rompimento com a concepção tradicional que teve início em fins do século XIX.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS] QUARTA AULA | Poéticas da Figuração Contemporânea”[PROCESSOS POÉTICOS] TERCEIRA AULA | As dimensões da imagem
A imagem como constitutiva de processos de subjetivação. Coordenadas simbólicas da experiência. A imagem e o simbólico: breve apresentação dos três registros na psicanálise de Jacques Lacan. A imagem como instituidora de afetos. Por que a Psicanálise hoje representa tantas implicações para a arte e o fazer artístico?

Nessa vida em que sou meu sono, eu não sou meu dono. Quem sou é quem me ignora e vive através desta névoa que sou eu todas as vidas que outrora tive numa só vida.
FERNANDO PESSOA
Na vida cotidiana, nós temos um Eu. Ou melhor, nós simplesmente somos, de maneira intuitiva, natural. Mas o Eu, de fato é uma função complexa, que é construída ao longo da vida através de processos de identificação. Além disso, esse “eu” não é integrado, homogêneo, sempre igual a si mesmo. É a imagem, e em particular a imagem do “eu”, o elemento que unifica tal heterogeneidade da personalidade, e nos entrega a vivência de certa unidade. Veremos que esta unidade é fruto de um enredo ilusório; em que pese a imagem do “eu” ser decisiva na constituição da “função do Eu”. Desde já, a questão toca ao artista visual: o que é uma imagem? Como se dá a experiência visual que consubstancia o ato criativo, de que falamos no Encontro 02?
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS] TERCEIRA AULA | As dimensões da imagem”[PROCESSOS POÉTICOS] SEGUNDA AULA | Desinvenção da visão: Desenho como Experiência visual (Parte 02)
PARTE II
Continuação do texto “[PROCESSOS POÉTICOS] PRIMEIRA AULA | Desinvenção da visão: POÉTICAS (Parte 01)“. Material complementar integrante do conteúdo do curso Processos Poéticos

Antes de seguir com outro importante viés do pensamento de Paul Valéry – o qual versa justamente sobre a destinação da obra, ou seja, o público (definido por ele como “consumidor”), procuraremos escrutinar os diferentes momentos da poiesis. Sendo o público o último elo implicado na complexa dialética do processo criativo (meios/fins, técnica/conceito, ação/recepção), é preciso entender primeiro como a base, o arcabouço ou bastidores da criação (termos do ensaio de Allan Poe) são armados.
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS] SEGUNDA AULA | Desinvenção da visão: Desenho como Experiência visual (Parte 02)”[PROCESSOS POÉTICOS] PRIMEIRA AULA | Desinvenção da visão: POÉTICAS (Parte 01)
Neste primeiro encontro do [CURSO] Processos Poéticos, trataremos da conceituação da “poética”, relacionando as obras de Aristóteles e de Paul Valéry a fim de introduzir a concepção de Desenho como articulador de experiências.

2017 | óleo sobre tela (190 x 230 cm)
De início, uma diferenciação importante: o significado hoje do termo “Poética” – no Brasil especialmente difundido pelas tantas pós-graduações e linhas de pesquisas em Poéticas Visuais – em nada coincide com a famosa Poética de Aristóteles. Curiosamente, ambas têm um sentido quase que diametralmente oposto: enquanto este último preconiza que o elemento central da poesia é a mímesis (ou seja, a poesia teria pouco a ver com versificação ou sua forma em geral, mas sim com “representação”), já a Poética criada por Paul Valéry se vale da acepção primitiva de poien:
Continuar lendo “[PROCESSOS POÉTICOS] PRIMEIRA AULA | Desinvenção da visão: POÉTICAS (Parte 01)”SINTOMAS DA ERA DA IMAGEM: VOYEURISMO E CEGUEIRA:
Sociedades que atravessam medos endêmicos, invariavelmente apresentam sintomas. Qual será o sintoma do nosso medo, do mal provisório que infesta os ares inaugurais do século XXI, na esteira de uma crise social estrutural? Penso se este não será, talvez o voyeurismo – uma espécie de “perversão escópica” que nos tornou cegos para outros sentidos, e cada vez mais avaliza a visão como detentora dos poderes de conhecimento, crença e validação.
Continuar lendo “SINTOMAS DA ERA DA IMAGEM: VOYEURISMO E CEGUEIRA:”
O DESENHO E SUAS COORDENADAS (AULA ABERTA)
O tema das Coordenadas do Desenho – conteúdo do primeiro vídeo da série “Desenho e Experiência”, foi abordado em uma aula aberta transmitida via streaming, a seguir disponibilizada integralmente. O encontro se divide em uma parte prática, na qual abordamos estritamente materiais expressivos (técnicas secas); e outra teórica, com reflexões daquilo que seria uma “teoria do Desenho”, a partir de conceitos emprestados da psicanálise e das ciências sociais.Continuar lendo “O DESENHO E SUAS COORDENADAS (AULA ABERTA)”
O Desenho e suas coordenadas
A principal coordenada do Desenho se confunde com a estruturação da própria visão. Porém o “contraste” (elemento central da síntese desenhística) é, no entanto, uma convenção. Código da linguagem visual, o contraste estabelece um acordo entre desenhista e observador – um secular acordo no qual o espectador suspende provisoriamente o juízo e acredita estar vendo volumes no papel: uma tridimensão que este originalmente não possui.
POR QUE A ARTE É INÚTIL (E DEVE PERMANECER ASSIM)?
Convidado a participar da Conferência online “(a)cessar o Real“, que ocorrerá em 30 de Outubro- fiz algumas reflexões sobre a eficácia simbólica da arte no contexto atual, e sua relação com o Real.
Continuar lendo “POR QUE A ARTE É INÚTIL (E DEVE PERMANECER ASSIM)?”
[LIVE] “O DESENHO, DE DENTRO PRA FORA”
Nesta segunda feira (07 de setembro) participo da live “O Desenho, de Dentro pra Fora” a convite do artista KELVIN KOUBIK (@kelvinkoubik), dentro do Projeto Afluentes. O tema gira em torno da concepção de Desenho como dinâmica que se estrutura de “dentro para fora” – seja em seu aspecto prático/metodológico, seja em sua dimensão de experiência visual. Pretendo abordar também sobre o Desenho no espaço da virtualidade durante o isolamento social, e por fim um pouco de minha trajetória profissional. (A reprise ficará disponível nos stories do perfil, e também neste canal Youtube aqui).
NOTAS SOBRE A VIRTUALIDADE: O DESENHO NA PANDEMIA
Todos os objetos da vida material (o mundo das coisas do mundo) circulam numa cadeia cujo fluxo possui uma lógica mensurável, chamada “economia”. Esse fluxo – que são as trocas econômicas, explica inclusive o “modo de pensamento conceitual abstrato” (SOHN-RETHEL, 1987) da vida social, e orbita sob uma única coordenada (ideológica): a função. Até aí, mais do mesmo. O problema, em especial para os artistas, é que, nesse mundo, a estética não encontra lugar – a menos que seja um “diferencial” que potencialize lucro.
Continuar lendo “NOTAS SOBRE A VIRTUALIDADE: O DESENHO NA PANDEMIA”
É PRECISO ‘DOM’ PRA SER ARTISTA? (OU MELHOR, EXISTE ‘DOM’?)
Artistas considerados “gênios”, portadores de um dom ou talento especial, muitas vezes manifestam, em seu próprio modo de vida, o oposto daquilo que sustenta a “aura” de gênio. Michelangelo, por exemplo – já em vida chamado “il divino”, dizia continuamente: “– Se soubessem o quanto eu trabalho, não achariam que sou grande coisa!”…. Ainda assim, a crença na existência do dom permanece no imaginário.Continuar lendo “É PRECISO ‘DOM’ PRA SER ARTISTA? (OU MELHOR, EXISTE ‘DOM’?)”
Desenho e produção de afetos: como desativar o fascismo
A representação na arte mobiliza a experiência – esta contundente estratégia que estrutura e é, ao mesmo tempo, estruturada pelo ato poético. Continuar lendo “Desenho e produção de afetos: como desativar o fascismo”
Desenhos não mediados pela técnica
Os chamados “desenhos feios” – que prefiro chamar de desenhos não mediados pela técnica, têm migrado da esfera pessoal do gosto e parecem hoje disputar estatuto artístico. Neste texto, discuto algumas ideias associadas a esta prática, como “democratização”, “liberdade criativa”, “aquisição de linguagem autônoma” e “inclusão no universo do desenho”.
Continuar lendo “Desenhos não mediados pela técnica”Desenho como experiência da contemporaneidade | Palestra IFRS/Atelier Livre | PORTO ALEGRE
Ante o acúmulo de imagens que nos atravessa, o olhar pode tanto neutralizar-se para a estesia das formas quanto, em oposição, qualificar a interpretação do mundo imagético. Ou seja, pode tender para a banalização ou para enriquecer-se ante o cenário da contemporaneidade, fortemente mediado pela imagem. O que nos cerca é alheio, até que passe a significar e seja apropriado pela intimidade de nossa língua pessoal.
HIPER-REALISMO E GÊNERO: TRÊS ARTISTAS BRASILEIROS
Poucos anos atrás comecei um texto sobre a obra do gaúcho Patrick Rigon com uma pergunta que a professora Marilice Corona lhe fez: Quem foi seu mestre? E ele respondeu: “O Youtube”. Isso ainda dá conta de explicar parte da natureza da Figuração Contemporânea, ocupada com a imagem onde quer que ela venha operar seu milagre. Hoje, esse lugar é a tecnologia digital.Continuar lendo “HIPER-REALISMO E GÊNERO: TRÊS ARTISTAS BRASILEIROS”
DESENHAR É PRECISO?
A não contemplar, prefiro
definitiva cegueira.
THIAGO DE MELLO
Toda imagem é uma interpretação, uma violenta alteração de contexto[1].Continuar lendo “DESENHAR É PRECISO?”
TINTA BRUTA: o desenho realista do cinema brasileiro contemporâneo
A tag “cinema realista” parece sempre abrigar filmes violentos, abordagens brutais ou cruas. A impressão não é casual e os adjetivos definem bem a estética realista. Responde também o porque da vida só parecer real diante de algo inesperado: uma paixão, um acidente, uma perda. Justamente quando perdemos as ficções simbólicas que dão ordem à realidade – quando o cotidiano sai do normal, é que podemos ver a vida como ela é. Por quê? Porque a eliminação das coordenadas simbólicas que guiam a experiência nos permite focar a vida em sua brutalidade primitiva, seu Real obsceno. Não é exatamente que a vida “na realidade” é brutal: é que a ausência de ficções só pode revelar uma dimensão traumática.Continuar lendo “TINTA BRUTA: o desenho realista do cinema brasileiro contemporâneo”
Arte, Desenho, Magia
Morris pode não comunicar ao leitor sua imagem do centauro, nem sequer nos convidar a ter uma, basta-lhe a nossa contínua fé em suas palavras, como no mundo real. [1]
JORGE LUIS BORGES
Toda expressão artística é um ordenamento de forças. A princípio dispersas na cultura, e assim alijadas de significação, são essas forças dotadas de “sentido” e orientação pelo ato poético, o qual então atribui contorno ao ininteligível, presença àquilo que está entre nós, mas ainda não pertence ao mundo humanizado da linguagem. Organizando-as, ou seja, dando-lhes forma, a arte lança as forças pulverizadas da cultura para o interior do jogo simbólico. O Desenho é apenas um dos dispositivos que entretece a malha de significados implicados nessa operação, por meio do que chamamos narrativa.Continuar lendo “Arte, Desenho, Magia”
Como desenhar pode ser uma prática subversiva
A cada bloqueio que sofro no Facebook (esta é a quinta vez), minha primeira sensação é de incompreensão. Depois de um mês bloqueado, é impossível não relativizar a importância desta rede social que, vista à distância é bem insignificante mesmo. Porém preciso dela para exercer minha profissão, a qual me leva de tempos em tempos a ser censurado por um algoritmo: sou artista visual e minha temática é a representação do corpo. Além disso, há 15 anos ministro oficinas de desenho da figura humana com modelo vivo: a nudez, portanto, está tão presente em meu trabalho, onde ela é de tal modo naturalizada – que o cinismo da “lógica” dos algoritmos sempre me deixa confuso.
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