Não há nenhuma idealização romântica ou inspiração clássica passadista; nenhum saudosismo, nem “desejo de retorno” na figuração presente na arte atual. É arte contemporânea em sua expressão plena – equacionados os preconceitos que reduziam a arte a um debate técnico. Os artistas que hoje recorrem aos elementos da tradição para articular o cotidiano estão interessados em realizar um exercício de escuta, de diálogo, um ensaio vigoroso de alteridade. Escrevi acerca do tema em outros momentos (aqui, aqui e aqui), e neste post transcrevo meu texto de curadoria para a FIGURATIVA – 1ª Feira de Arte Figurativa Par de Ideias.
Trata-se de um momento importante de encontro entre artistas e interessados na nova figuração, que servirá também como termômetro do interesse nesta produção. Idealizada e produzida pelo espaço Par de Ideias, referência imprescindível em Brasília, a Feira conta nesta primeira edição com 15 artistas de diferentes categorias, escolhidos sob minha curadoria. A exposição com as obras à venda tem entrada franca, e acontece na capital do DF em dezembro (7 a 21 de dezembro). Inclui ainda uma palestra e workshop, ambos ministrados por mim. Clique aqui para informações e inscrição!

A 1ª FIGURATIVA – Feira de Arte Figurativa, promovida pelo Par de Ideias – espaço cultural independente sediado no DF – apresenta obras de 15 artistas,adotando a “figuração” como recorte curatorial. Dedicada à inserção comercial,a Feira traz também um importante debate ao acolher um tipo de produção que vem crescendo mundialmente. Para além dos lugares-comuns da hegemonia, os desenhos, gravuras, pinturas e esculturas da mostra reinventam a expressão figurativa ao explorar limites e tensionamentos da “representação”.
Após quase dois séculos de desconstruções, a figuração resiste. Em uma perspectiva não-historicista mais interessante, diríamos mesmo que ela nunca desapareceu do universo da arte. Essa recorrência permitiu à figuração – através de uma profunda reavaliação e autocrítica, conquistar hoje a capacidade de testar seus pressupostos, tornando-se estratégia privilegiada de problematização da própria representação.
A presente curadoria adota um ponto de corte bastante claro: acolhe a produção figurativa, em especial aquela mais atenta ao movimento global de representação na arte – conhecido como “figuração contemporânea” (ou eventualmente “realismo contemporâneo”). Desde já alertamos que, embora todas as obras aqui possuam grande qualidade estética, não nos restringimos a nenhum critério específico de domínio técnico-formal.

Embora a técnica seja um caminho incontornável ao trabalho plástico, ela depende da apropriação pessoal do artista, cuja subjetividade irá rearticular os procedimentos técnicos conforme suas próprias motivações. Daí advém, inclusive, a validação da técnica. Essa dialética entre a tradição e seus diferentes modos de subjetivação é o que irá constituir e caracterizar a produção de um período.Sendo assim, não negamos nenhuma particularidade, priorizando algum critério em detrimento de outros – seja restringindo à operação clássica (acadêmica), seja realista, contemporânea, etc.
Tínhamos em mente, sobretudo,o lema de Ezra Pound “make it new”. É da tradição que a linguagem pictórica extrai sua força; mas o contrário é também verdadeiro. A pintura contemporânea e sua promoção da linguagem pictórica contribuem para a valoração da tradição – assim é que permanentemente disputamos o passado. Não seria essa liberdade radical na escolha de referências uma herança fundamental do pós-modernismo?

Estamos cientes de que as tradições são reinvenções que iniciam no exato momento em que as reivindicamos. A iniciativa da Par de Ideias – espaço proponente da Feira, não padece de ingenuidade: não é anacrônico “retorno passadista”, tampouco expressa um desejo de “resgate”. Ao propor uma Feira de “arte figurativa”, abriga distintos modos (tornados possíveis pela arte contemporânea) de ser e estar no tempo: a pesquisa histórica, interferências, inferências e referências, incluindo prospecções de futuro. O que ela faz é criar um espaço de visibilidade a esses modos distintos, oferecendo estrutura material (exposição, catálogo, curadoria e merchandising) que fomenta inserção e maior compreensão à produção figurativa.
Apesar de ostensivamente popular (e talvez por isso mesmo), a figuração se ausentou das análises da crítica,ora confundida com “concessão à hegemonia”, ora com “nostalgia saudosista ou romântica”.Assim, boa parte da melhor produção atual está passando despercebida pelo mainstream no Brasil. A nova figuração requer uma nova mediação – para o que espaços como esses são fundamentais: eles tensionam a tríade academia/crítica/mercado a acolher essa forma de articulação estética que já há algum tempo tem repensado a representação de modo autônomo e vigoroso. ///

imagem da capa | TAIGO MEIRELES, “Autorretrato”, 2016/18 | óleo sobre tela (7,5×9,2cm)










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